De Zero a Cem

O que o impresso faz que o digital (ainda) não consegue fazer - parte 2

Nessa segunda parte de texto proponho uma reflexão sobre como as limitações e as soluções visuais produzem diferentes resultados quando se fala na credibilidade informativa de um veículo.

Sites informativos muito parecidos: falta identidade ao jornalismo online brasileiro?

Se você ainda não leu, confira a primeira parte do texto.

Fato 2 - O fator sensorial: o visual, o toque e a experiência que só o papel proporciona

Antes de escrever sobre esse assunto fiz uma pesquisa informal, sem valor científico, mas que surpreendeu em vários aspectos.

Perguntei à algumas pessoas, cuja preferência já conhecia, porque consumir o produto impresso sabendo que, muitas vezes, o conteúdo é reproduzido de forma idêntica na versão digital. Acrescento que essas pessoas preferiam o papel mesmo que em alguns casos o digital tivesse aquele algo a mais, como acesso a trailers, entrevistas em aúdio e galerias de fotos que deveriam pesar na decisão a favor (?) do meio.

Entre as repostas, a mais interessante e a que comento aqui foi a de meu pai. Ele é assinante da Época desde o início da revista e entre outros, o argumento que mais me intrigou foi: "Credibilidade, meu filho".

Primeiro, porque acredito(va?) que a credibilidade é inerente à uma marca. Alguns pesquisadores da comunicação tem trabalhado nessa linha e conseguido resultados interessantes. Em segundo, se a apuração que gerou os textos e fotos que estão no digital e no impresso foi a mesma, o que difere entre essas versões para possuírem pesos diferentes para o leitor?


Entrevistas de conteúdos idênticos: a formatação influencia credibilidade?

Quando o fiz a pergunta, meu pai falou o esperado sobre facilidade, comodidade na leitura e o toque que uma revista/jornal proporciana ao leitor. O virar das folhas, os infográficos de página dupla e dinâmica texto/imagem que o digital ainda não emula tão bem...

O que me intriga é que segundo ele, mesmo com o conteúdo idêntico (olhem só!) o site não transmite a mesma confiança que a revista impressa.

"Parece tudo muito distante!"

Essa foi uma das frases que me marcou, justamente porque é de fato inegável; a experiência sensorial do impresso ainda supera a digital em vários aspectos.

Sei que a opinião de uma só pessoa não tem o peso de uma pesquisa científica, mas aposto que se um dia essa relação for objeto de análise alguma lógica deve existir. Aliás, estava me lembrando de um episódio que comprova que mesmo quem não conhece muito sobre linguagens de programação sabe das limitações que os navegadores imprimem ao trabalho dos webdesigners e jornalistas da rede.

"É tudo muito igual."

foi a frase que Joaquim Lannes, meu editor-professor do jornal-laboratório que comentei no outro texto, me respondeu quando perguntei no fim de 2008 sobre o que mais incomodava a ele na leitura do notíciario online. Fora sua desconfiança sobre práticas de apuração da blogosfera (ainda vou convertê-lo!), ele tem certa razão em algumas críticas que faz.

Reparem que de fato, tirando os blogs e as famigeradas reportagens multimídia que abusam na experimentação em linguagens onde texto-áudio-vídeo são extremamente dependentes um do outro, os maiores sites de jornalismo online porque aqui são incrivelmente parecidos.

Fontes semi-serifadas padrão, as justificadas e condenáveis práticas de auto-linkagem, os menus laterais/superiores e os padrões de cor que orientam a navegação. Não esquecendo do sanduíche foto-texto-foto-audio-infográfico/galeria naquele vertical infinito da barra de rolagem em reportagens mais... apuradas. (?)

Além de uma experiência estafante para o usuário que procura reportagens mais elaboradas,  festejadas como salvação do Impresso; falta uma identidade consolidada e coerente que justifique um universo online informativo único e confiável como o criado pelo irmão mais velho. Talvez seja isso: irmão mais novo buscando seu lugar.

A credibilidade de um veículo me parece nascer além dos fatores tempo de mercado e o rigor da apuração. Talvez sejam conexões mais subjetivas como o visual, a experiência sensorial que consolidem a tão falada identificação imediata e constante leitor-veículo, que na minha opinião ultrapassa os conceitos de confiança ou costume.

Enquanto não temos resposta concreta, o que acham da relação visual/credibilidade?

Não deixe de comentar e conferir na próxima semana a terceira parte do texto quando vamos discutir sobre os diferenciais na Arquitetura de informação dos formatos. Afinal, a hipertextualidade de meio digital é sempre positiva? Descubra o que penso sobre conceito de produto informativo na última parte de "O que o impresso faz que o digital (ainda) não consegue fazer".

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